INIMIGOS

“Os inimigos como os únicos verdadeiros; como aqueles que, conservando os olhos sempre voltados para cima, obrigam ao caminho rectilíneo; como auxiliares de grandeza, porque obrigam a superar as más vontades e os obstáculos; como estímulos do aperfeiçoamento de si e da vigilância; como antagonistas que impelem para a competição, a fecundidade, a superação contínua. Mas são bem vistos, sobretudo, como prova segura da grandeza e da fortuna
Todo o tempo e esforços que se consomem para nos precavermos contra quem nos odeia, e defendermos-nos, seria muito mais bem empregado nas alegrias da paz e caridade. Viver no meio de um círculo de inimigos pode por vezes exaltar o orgulho, inspirar pensamentos heróicos e elevar acima da mediocridade, mas representa sempre permanecer num clima envenenado que, mais cedo ou mais tarde, enfraquece. Saber que toda a palavra será pesada, todo o acto mal interpretado, toda a obra menosprezada, acaba por suprimir a espontaneidade e vontade de fazer algo - conduz à dúvida e à paralisia.
E se a natureza não fosse tão má como é, os benefícios dos inimigos resultariam inúteis
Mas a verdadeira razão que nos predispõe para a apologia indirecta do ódio é a profunda fraternidade entre quem odeia e quem é odiado. Ser inimigo quer dizer assemelhar-se.
O verdadeiro inimigo é, para cada um, o amor de si.”
Giovanni Papini
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